quinta-feira, 19 de abril de 2012

Contra a corrupção

A República brasileira passou por alguns momentos constrangedores quando da recepção à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, em visita oficial ao Brasil. Em cerimônia que selava a adesão do Brasil ao projeto de Barack Obama de implantação do “governo aberto”, no qual a sociedade civil e qualquer cidadão possa acompanhar o andamento dos gastos públicos, a secretária norte-americana afirmou que a presidente Dilma Rousseff é hoje ‘um exemplo mundial na luta contra a corrupção’ e que até mesmo estabeleceu um padrão de governo, no que se refere ao tema, que precisaria ser olhado com atenção pelo mundo.
O constrangimento logo se evidenciou porque ao lado da presidente estavam sentados dois ministros de Estado sob os quais pesam atualmente severas acusações de corrupção: Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que se revelou um “espetacular consultor” ao amealhar mais de 2 milhões de reais no prazo entre sua saída da prefeitura de Belo Horizonte e a sua ascensão ao ministério; e Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, envolvida em compras de lanchas de empresas que financiaram sua campanha no Estado de Santa Catarina. Isto para não nos referirmos aos sete ministros que tiveram que ‘se demitir’ por pressão da opinião pública e da imprensa e não por iniciativa da presidente, o que pareceu ser um intencional desconhecimento(?) da eminente secretária.
Já há muito que o tema da corrupção deixou de ser arma política retórica usada por populistas ou moralistas de varias matizes. Trata-se de uma questão real para os governos de todo o mundo. A ‘corrupção mata’, como afirma o lema do movimento o ‘Dia do Basta à Corrupção’, que convida a população a se manifestar no próximo dia 21 de abril. E isso é verdade. Mata porque subtrai recursos das políticas sociais e das políticas estratégicas que visam melhorar a vida da população no presente e no futuro. A luta contra a corrupção é, portanto, uma luta pela vida contra esse mal que está incrustado em nossa cultura e em nossa prática política. Mas a corrupção pode matar também a democracia, fazendo com que o cidadão comum deixe de acreditar e prestigiar as instituições.
Lutar contra a corrupção é garantir e renovar a democracia por meio do exercício e da prática de ações políticas e culturais que não antagonize o cidadão com as instituições da democracia. Enfrentar a corrupção sem restrições é, assim, uma atitude republicana que visa impulsionar o ‘mundo político’ a não afrouxar, impedindo que ele se degenere por completo. Temos que, juntos, superar esse modorrento transformismo que vem solapando a ética e colocando em risco nossa recente e frágil democracia.
Estabelecer um ‘governo aberto’ no sentido da informação e de transparência é um extraordinário avanço mas ainda é muito pouco para um país alastrado pela corrupção. É preciso mais coragem e determinação para romper com esse cancro que se instalou particularmente dentro do governo federal.
No dia 21 de abril, a sociedade civil organizada colocará nas ruas o ‘Dia do Basta à Corrupção’. Esperamos que os organizadores do movimento em Franca entendam que essa é uma luta de toda a cidadania e não um apanágio de um ou outro pré-candidato a prefeito. Este seria um grande equívoco e, se acontecer, jogará mais no sentido de desunir e não de unificar forças para enfrentar esse verdadeiro flagelo da nossa República, tão distante da compreensão da secretária de Estado norte-americano bem como de alguns mandatários e representantes da população desta terra brasilis.

Fonte: Comércio da Franca

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