quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Alberto Aggio: A grande transformação

O que está em curso afeta por inteiro a humanidade. É um processo imparável
Estado de São Paulo
São raros os momentos na História em que as sensações parecem coincidir com a realidade. Talvez estejamos vivenciando precisamente um desses momentos. A sensação de que a realidade é movediça não é autoengano. Além da velocidade, o que nos impacta é a instantaneidade. A impressão é de que vivemos uma sequência de flashes que sintetiza um mundo que muda a cada respiro. A realidade técnica faculta-nos a possibilidade, antes restrita, de capturar e compor, de alguma maneira, o fruir desta “vida instantânea”.

As percepções em flashes não são convidativas a sensações de certeza ou de estabilidade com as quais nos sentimos com algum controle sobre o presente e, por vezes, imaginamos constituírem garantias para nossas esperanças quanto a um futuro benfazejo que seguimos desejando. Racionalmente, não rejeitamos a realidade cambiante e até nos dispomos a aprender a viver nela, mas procuramos precaver-nos dos riscos de alçar voo sem radares precisos de última geração.
Pode-se suspeitar que haja positividade e negatividade na atual vaga de transformações, mas não há quem duvide que a humanidade passa por mudanças profundas no seu modo de vida. O estabelecimento e a afirmação da chamada sociedade digital alteraram a dinâmica do tempo, afetando o mundo da produção, da circulação, da comunicação, enfim, o mundo da vida por inteiro. Não estamos mais no início desse processo: estamos em pleno curso há algum tempo e parece não haver lugar no planeta que não esteja sendo impactado. Assim, nossa realidade hoje é de transformação global e epocal, registrada nos circuitos produtivos mundiais, na comunicação online e no comportamento hodierno das pessoas que circulam pelas cidades com seus smartphones.
Quando os olhos da camponesa da periferia de Londres acompanharam, no início do século 19, o pequeno trem se afastando do seu campo de visão carregado com cestas de verdura, leite e ovos para, em poucos minutos, chegar ao centro da cidade e abastecer residências e hotéis, ela estava registrando em sua memória tão só um flash da grande transformação que impactava a sociedade europeia. A “locomotiva da história” serviu de metáfora a inúmeros pensadores ao elaborarem as imagens de uma época que alterava o tempo da vida numa sequência vertiginosa. Quase um século depois, o brilhante livro de Karl Polanyi A Grande Transformação produziu, analiticamente, a interpretação sobre aquilo que os contemporâneos haviam assimilado em sensações que se conectavam com seus órgãos vitais, mas pareciam estar fora de controle ou mesmo fora da sua compreensão.
Aquela mudança profunda não tinha uma explicação monocausal. Suas raízes e energia estavam disseminadas no conjunto da sociedade. Seu impacto, em maior ou menor grau, atingia todos. Era uma clara vitória do mercado, que implicava a imposição de uma sociedade à sua imagem e semelhança. Mas há que recordar que um dos méritos de Polanyi foi o de demonstrar que a vitória do mercado não esteve desprovida da ação dos Estados, ou seja, da política. E esta não foi a única contradição a marcar aquela época nova.
Manifesto Comunista, de 1848, de Marx e Engels é representação antagônica ao contexto em que se generalizavam a circulação e a lógica produtiva da indústria por toda a Europa e pelo mundo. Entretanto, as mudanças no plano político, com a reorganização da sociedade em função dessa grande transformação, só vieram a ocorrer no final do século 19. Lembremos que os partidos políticos são construções do movimento operário quando a moderna sociedade industrial já estava quase que inteiramente assentada na Europa.
Hoje a indústria 4.0, nascida da digitalização, os big data, os robôs autômatos, as interações horizontais e verticais, bem como a produção remota, etc., aumentam de forma inaudita a produtividade e a eficiência, otimizando a produção. É uma grande transformação, um salto à frente para emancipação da humanidade, mas não é uma revolução com as marcas de ruptura que definiram sua representação conceitual. Há possibilidades abertas, expectativas, mas também desconcerto; e, sobretudo, riscos. Observar os impactos negativos e chamar a atenção para a necessidade de se pensar em transições, conforme as dimensões sociais impactadas, ou insistir no fato de que o novo também precisa ser regulado não constituem atitudes reacionárias per si. É preciso superar a inércia de pensar que a História se move pelos “fatos”, sem a intervenção dos “atores” (lideranças políticas, sociais e culturais), e que ela obedece a uma sequência obrigatória, predeterminada pelo avanço da técnica.
O antropólogo Mauro Magatti, em seminário recente realizado em São Paulo (Desafios políticos de um mundo em intensa transformação, FAP/ITV), chamou a atenção para um desses riscos ao comentar que, “com a digitalização, a lógica taylorista poderá ser aplicada não mais só às fábricas, mas também às cidades, aos hospitais, às estações, às escolas, às universidades. Isso significa que um novo panóptico, infinitamente mais poderoso do que o imaginado por J. Bentham, está hoje ao alcance da mão. Não uma jobless society, mas uma total job society”, ou seja, “uma sociedade organizada em torno de um novo tipo de trabalho (e de vida) sem lugar e sem tempo, na qual a relação entre trabalho e remuneração deverá ser completamente renegociada”.
O que está em curso afeta por inteiro a humanidade. A grande oportunidade almejada pelos utopistas modernos de superar o trabalho mecânico e estafante torna-se uma realidade a cada dia. Trata-se de um processo imparável. Mas essa oportunidade histórica não pode continuar alimentando um drama social sem saída e sem fim. É de supor que a política, desconectada de passadismos, poderá ter serventia se recolocar o homem no centro desses dilemas, em diálogo produtivo com o mundo da técnica.
*Historiador, é professor titular da Unesp

terça-feira, 24 de outubro de 2017

PPS um partido de esquerda democrática e reformista

O texto abaixo foi aprovado na Convenção Municipal do PPS-Franca no qual se caracteriza o PPS como um partido de esquerda democrática e reformista

Por Alberto Aggio



O Partido Popular Socialista (PPS) é um partido nacional que finca as raízes da sua política na Constituição de 1988 – a Constituição mais democrática da nossa história – e que representa uma perspectiva de esquerda democrática para amplas parcelas da ...sociedade brasileira que reconhece nas suas ações e proposições a perspectiva de um presente e de um futuro melhor para o país.


O PPS entende que a política é uma vocação que pede sempre o concurso do pensamento, é uma atividade que deve ser exercida tendo como base a formação permanente e que busca uma identidade que se fundamenta e se faz a partir de uma cultura e uma sensibilidade compartilhada entre seus dirigentes e militantes. Para o PPS a política é concebida e praticada em todas as suas dimensões como uma política democrática que busca a renovação progressista do Estado bem como a melhoria da vida social no seu conjunto.


O PPS procura exercer sua ação parlamentar em todas as instâncias do poder legislativo e ambiciona conquistar e participar cada vez mais de governos que espelhem essa sua visão da política democrática como um empreendimento e uma ação vigorosa no âmbito do Estado, objetivando sua reforma permanente, em busca de uma sociedade mais renovada, moderna e justa voltada para o bem comum. E isso só é possível com o partido se abrindo cada vez mais aos interesses dos amplos setores sociais, procurando traduzi-los como interesses que beneficiem a sociedade, dentro de uma visão humanista e progressista.


O PPS busca ser também um partido que não fale apenas de política no sentido convencional do termo. Ele deve se abrir à reflexão e mesmo à expressão de temas que manifestem os dilemas e ao mesmo tempo dinamizam a sociedade contemporânea tais como a real emancipação das mulheres, as questões transversais que marcam as novas subjetividades nas questões de gênero, as perspectivas de sustentabilidade de uma nova economia, etc. Desta forma, o PPS deve ser entendido, visto e compreendido como um organismo inovador e pluralista que abre espaço e amplia o dialogo e a expressão cultural junto aos novos e emergentes sujeitos sociais.


Em toda essa visão do político há uma “dualidade produtiva” que deve ser a marca de um partido popular voltado para a construção da democracia do século XXI. Nesta construção não há antagonismo entre democracia representativa e democracia participativa. A nossa visão da democracia é a da sua reforma permanente. Assim sendo, para nós, democracia continua sendo a institucionalização do conflito no âmbito das instituições do Estado, e a sua expressão contestadora e crítica – a contrademocracia, um conceito de Pierre Rosanvallon –, é o pulsar que vem de fora das instituições e que lhe dá vida, renovando o sistema e as formas do político bem como a sociedade em seu conjunto.


Por fim, o desafio presente do PPS reside na construção de uma alternativa política aos dilemas do atual ciclo de “modernização sem modernidade” que ganhou corações e mentes entre os brasileiros nos últimos anos. A modernidade sempre foi um fascínio para a sociedade brasileira. O PPS busca fundir modernidade com política democrática para que ambas se tornem efetivamente uma conquista irreversível de todos nós.


Este texto foi realizado na Convenção Municipal do PPS-Franca em 23 de outubro de 2011

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

PPS defende transição, reformas e união das forças democráticas nas eleições de 2018

O PPS (Partido Popular Socialista) exibiu nesta quinta-feira (05) em rede de rádio e TV  o programa eleitoral partidário (veja abaixo). Com a participação das principais lideranças nacionais, a legenda reafirmou a condição de independência em relação ao governo, mas de apoio ao processo de transição até 2018 e de reformas estruturais para o País superar o mais longo período de recessão de sua história depois de 13 anos de governos lulopetistas.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), abriu o programa fazendo uma avaliação da atual conjuntura política e econômica. Ele disse que a economia mostra sinais de retomada com o início da recuperação dos empregos perdidos na era petista  e defende que o País necessita de reformas para consolidar esse novo momento.
Freire também conclama as forças democráticas, que se aglutinaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e são responsáveis pelo governo de transição, a se unirem para oferecer um programa para o Brasil nas eleições de 2018. O parlamentar diz ainda que vê com preocupação o surgimento de “órfãos da ditadura”, em alusão ao debate de setores retrógrados da sociedade que defendem a intervenção militar.
Bancada
Os parlamentares da bandada do partido na Câmara dos Deputados abordam no programa as ações do PPS contra a corrupção no Congresso Nacional, a luta pela ampliação da participação da mulher na política, a necessidade da reforma da Previdência, o combate aos supersalários dos membros dos três poderes da República e defendem melhorias das condições de vida da população com serviços públicos de qualidade na segurançaeducação e saúde.
O prefeito de Vitória (ES), Luciano Rezende, explica o “jeito do PPS trabalhar” nas cidades brasileiras administradas pelo partido, e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) encerra o programa falando das escolhas que o País precisa fazer para “desamarrar” o Estado brasileiro “com eficiência e compromisso“.
Para o senador, o Brasil precisa das reformas da Previdência, trabalhistatributária e política, “para baratear o custo das campanhas eleitorais. Sem isso, vamos ficar para trás”, afirmou.